sábado, 27 de janeiro de 2024

Explicando de uma vez por todas a diferença entre samba e pagode

Há muito tempo esse assunto gera discussão. E eu fico revoltado de ver tantas opiniões equivocadas a respeito. Mas, aqui, tentaremos explicar o que é samba e o que é pagode. Mas, para isso, teremos que voltar muito no tempo, para entendermos desde o início.

A palavra pagode surgiu séculos atrás, na Índia. Pagode, em sânscrito, significa templo. Era um templo budista. Com o tempo, os escravos africanos trazidos ao Brasil passaram a utilizar o termo pagode para designar um tipo de festa, onde se tocava o samba. Era como se estivessem querendo se referir ao "templo do samba".

Mas, a partir de 1977, surgiu o pagode como genero musical. Esse estilo trazia um novo tipo de se fazer samba, seja nos instrumentos, seja nas letras, ou até no jeito de cantar. Quem primeiro descobriu e depois passou a gravar o novo ritmo foi a cantora Beth Carvalho, que até então era uma SAMBISTA, mas a partir daí viru PAGODEIRA. Assim como Leci Brandão, que na década de 70, era uma sambista de primeira linha, mas depois do modismo do pagode, teve uma considerável queda na qualidade de seus discos.

Essa primeira geração do pagode pegou pra valer em 1986, em meio a euforia do Plano Cruzado. Fundo de Quintal, Zeca Pagodinho, Jorge Aragão, Só Preto sem Preconceito entre outros.

A onda durou pouco, como era de se esperar. Mas, logo em 1990, veio a segunda geração do pagode. Dessa vez, mais meloso e repleto de grupos oriundos de São Paulo. Negritude Jr., Exaltasamba, Katinguele e muitos outros. Esse novo pagode faria muito mais sucesso que o original, e durou a década de 90 inteira. Sempre tinha um grupo nos programas de domingo, rebolando prum lado e pro outro, com óculos na testa e chorando suas desilusões.

Aí, o pagode do Cacique de Ramos, que era o pagode dos anos 80, passou a ser visto como samba autentico. Assim como hoje, duplas como Milionário e José Rico são consideradas sertanejas de raiz, o que sabemos que não tem nada a ver. Eles tem que assumir a paternidade de seus filhos.

Já o samba autentico, ele é tocado com outros instrumentos. Ele não tem banjo, repique de mão ou tantã. E sim, cavaquinho, surdo e tamborim.

O verdadeiro samba, pra mim, é Cartola, Noel Rosa, Demonios da Garoa, Adoniran Barbosa, Alcione, João da Baiana, Sinhô, Nelson Cavaquinho, Donga, Bide, Marçal, Carlos Cachaça, Clara Nunes.

E hoje em dia, tem gente fazendo samba? A resposta é sim. E gente de responsa, diga-se de passagem. Casuarina, Tereza Cristina, Grupo Semente, Sereno da Madrugada, Mart'nália, Diogo Nogueira (que além do talento e simpatia, tem aquela deusa da Paolla Oliveira para chamar de sua).

Tem também o samba-rock, que é um caso a parte. Muitos grupinhos de pagode dos anos 90 se dizem influenciados por essa delícia de ritmo, desenvolvido pelo mestre Jorge Ben Jor, Trio Mocotó, Bebeto, Seu Jorge (o qual eu não entendo porque tanta gente critica, o som do cara é maneiro). Alguns até fazem um trabalho bacana quando o exploram. O Art Popular gravou Agamamou e o Só pra Contrariar, Balada da Noite, ambas com participação de Ben Jor. O Molejão gravou Samba-Rock do Molejão, que ficou bem legal, mas assassinou Pensamento Verde, do paulistano Branca di Neve, transformando num pagode.

O grupo Raça Negra eu considero EXCELENTE. O único da safra de 1990 que tem um repertório excepcional. Mas eu deixei para falar depois do samba-rock por conta disso. Na minha modesta opinião, o maravilhoso grupo de Luiz Carlos é um grupo de samba-rock, ou swing, como queiram. Eles não são um grupo de pagode como rotulam. Basta ver o balanço e a levada da guitarra, do saxofone em músicas como Cheia de Manias. Além do mais, o fato deles terem regravado músicas da Jovem Guarda e duetado com duplas sertanejas só os aproxima mais da boa música.

Agora, porcarias como Ferrugem, Menos é Mais, Rodriguinho e outros, deveriam cair no esquecimento, mas, mesmo após o declínio do pagode, se mantém na mídia.

Vamos aprender a diferenciar samba e pagode. Como diria o grande sambista baiano Riachão, cada macaco no seu galho.