domingo, 20 de março de 2016

Classificação Indicativa poderia funcionar se fosse bem aplicada

Como um adepto do libertarianismo, todo mundo já sabe que sou contra a classificação indicativa. Bom, deixem-me explicar melhor. Sou contra a imposição de horarios, e não contra o aviso parental em si.

Entretanto, eu acho que deve haver, sim, uma proteção à criança e ao adolescente. Só não concordo que ela venha do Estado. As próprias emissoras deveriam ter o bom-senso e se auto-regular, evitando de passar conteúdo impróprio em horários acessíveis a todos.

Eu queria fazer algumas críticas ao funcionamento do atual sistema vigente. São elas:

1) O programa Big Brother Brasil recebe classificação 12 anos. Antigamente era 14. Infelizmente, a emissora Rede Globo, da qual eu sou muito fã e acho que é a melhor do mundo, conseguiu na Justiça o direito de baixar a classificação desse programa asqueroso. Para uma emissora que tem no seu currículo excelentes programas educativos, alguns em parceria com a Fundação Roberto Marinho, e até mesmo programas interessantes de entretenimento, como Altas Horas, Programa do Jô, Domingão do Faustão, o BBB é uma mancha incuravel. Não sou moralista, gosto de uma boa sacanagem, mas quem discute sexualidade de maneira bacana é o Amor e Sexo, com a gata da Fernanda Lima. BBB é baixaria pura, simples e vazia. Apologia da prostituição, das brigas e da música de má qualidade nas festas (festas ou orgias?). Esse LIXO TELEVISIVO deveria ser classificado como inadequado para menores de 18 anos. O ideal mesmo seria que essa imundície fosse banida para sempre do mundo, mas isso seria ruim para a audiência. Audiência que tira toda a credibilidade da emissora do Projac.

2) Segundo a Constituição, o ECA e a portaria que determina a regulação da mídia, programas ao vivo, programas de auditório e jornalísticos estão isentos de classificação. Mais tarde, uma nova portaria foi aprovada, criando a classificação para os dois primeiros. Mas os telejornais continuam livres para passar em qualquer horário. Isso é péssimo, por que é justamente no horario da tarde que é exibido o chamado "mundo-cão". Os Datenas e Rezendes da vida, que exploram a desgraça em nome da informação. Esses, podem passar a qualquer hora do dia, principalmente quando a garotada está chegando da escola. E é aí que essa garotada tem seus sonhos destruídos e absorvem o medo de andar na rua. Sabemos que a violência é uma realidade, e eu concordo que bandido tem que ser punido severamente. Eu mesmo já fui vítima de assalto e sou contra passar a mão na cabeça de bandido. Mas o que eu condeno é o pseudo-jornalismo vulgar, grosseiro, banal.

3) Agora, uma qualidade da Classificação Indicativa: nos anos 90, as TVs costumavam exibir aqueles ridículos filmes de terror trash, com atores desconhecidos e que mais faziam rir do que sentir medo. Com a classificação, essas porcarias foram eliminadas do horario vespertino. Nem de madrugada passam mais, ainda bem.

4) Mas o motivo dessas produções patéticas não irem mais ao ar, é que os canais que mais as transmitiam (a Bandeirantes e a CNT) passaram a vender/alugar horarios para programas independentes. E aí está um outro problema: programas que compram/alugam horarios não são classificados. Aberrações como Polishop, Super Papo, Hyper QI, Igreja da Graça, Igreja Universal do Reino de Deus, Leilão de jóias ou de gado, tele-sexos não são proibidos de passar em horario nenhum. Se aparecer uma gostosa pelada pedindo pra você ligar e transar ao vivo, se um pastor estiver exorcisando um fiel lhe dando socos na cara, não serão impedidos. O horário é deles, são independentes e não respondem na Justiça se cometerem algum abuso.

Esses são apenas alguns exemplos de como o MJ falha. Infelizmente, eu tenho que dizer isso. Eu gostaria muito de ser a favor da classificação, e até mesmo da restrição horária, mas de que adianta se elas não funcionam corretamente?

Se for para a Classificação Indicativa existir, que exista. Mas que ela seja justa. A liberdade é uma coisa muito boa, já a libertinagem é uma maneira de destruir a infância e valores como respeito, amor, família. E aqui, não estou fazendo discurso religioso, que fique bem claro. A religião é o outro lado desse mal. Os dois conseguem viver juntos perfeitamente. Moralismo e imoralidade se completam.

A classificação indicativa foi uma idéia muito boa do Governo. Nós libertários não somos contra o Estado, quando ele tem boas idéias. Mas ela funcionaria muito melhor se fosse bem aplicada.

sábado, 12 de março de 2016

O cinema brasileiro precisa de mais encanto

Sempre fui um grande apreciador do nosso cinema. E sempre fui criticado por isso também.

"Ora, Bruno, como você assiste filme brasileiro? É tudo porcaria, só mostra miséria, violência e vulgaridade".

Até nas minhas empreitadas como aspirante a jornalista, minha maior referência é um cineasta legitimamente tupiniquim: Arnaldo Jabor.

De fato, o cinema brasileiro se tornou refém de uma fórmula que funcionou durante anos, mas tem se tornado cada vez mais desgastante.

Mostrar a pobreza de favelas, periferias e sertões é uma herança do Cinema Novo. Um cinema "engajado", muitas vezes por oportunismo. Vale lembrar que o grande mentor desse movimento, o chatíssimo Glauber Rocha, elogiava de vez em quando o regime dos militares.

O grande problema não é criticar esse tipo de filme, mas generalizar toda uma história como se ela se resumisse a isso.

Na década de 70, havia as pornochanchadas, que eram divertidíssimas e não deixavam de fazer crítica social por isso. O elenco costumava ser, no mínimo, esforçado.

Entretanto, a pornochanchada hoje é inviável. Não há mais mercado para isso desde a década de 80, quando o video-tape facilitou a vida de todo mundo. A indústria pornográfica tomou conta. Embora eu adore um pornô explícito, não deixo de assistir às velhas pornochanchadas, pelo seu valor e por simbolizar o retrato de uma geração.

Mas a intenção desse texto é propor uma alternativa para toda a família assistir. E também fazer com que o cinema brasileiro se aute-sustente.

As obras infantis brasileiras parecem fazer as duas coisas: são filmes inocentes, legais, que rendem um bom passatempo de uma hora e meia. E também são filmes realizados com patrocínio de empresas privadas.

Cito um exemplo: a linda e maravilhosa Angélica, que hoje conhecemos como apresentadora, mas que já fez carreira musical e cinematográfica. Eu, como uma criança da geração 2000, cresci assistindo seus filmes, que eram exibidos à exaustão na Sessão da Tarde. Dois em especial chamavam minha atenção: Zoando na TV e Um Show de Verão. O primeiro, por que me fazia acreditar numa coisa que muita criança da minha época sonhava: entrar na televisão e interagir com a galera. O segundo, por causa de seus números musicais.

Aliás, me chamem de utópico, mas eu sou a favor de mais números musicais no cinema brasileiro. Sim, não tenho medo nenhum de copiar isso descaradamente da Índia. Mesmo que seja somente nos filmes para crianças. Que se façam mais filmes para crianças, ora! O Brasil está carente disso.

Filmes com Os Trapalhões também povoavam meu imaginário. Hoje, são considerados tolos, inócuos e até bregas. A infância de hoje é marcada por filmes violentos, e não são só os brasileiros, não. Os norte-americanos também adoram encher as salas de cinema com muita pancadaria e efeitos especiais, o que é até pior. Pelo menos a violência no cinema nacional é uma realidade, embora não deva ser um monopólio.

Se for para o Brasil copiar o que vem de fora, que copie. Mas que haja uma democratização e uma diversidade na produção.

Sinto falta da magia, da fantasia e da pureza de um tempo em que criança via filme de criança. O que o cinema brasileiro precisa, além de mais boa-vontade do público e dos realizadores, é de mais encanto.