sexta-feira, 16 de dezembro de 2016

A palavra "crush", a influência do estrangeiro e a neo-cafonice

Eu vejo quase todas as jovens meninas dizendo "crush". "Fulano é meu crush", "essa música lembra meu crush". E geralmente são projetos de músicas, pois me recuso a chamar de músicas essas coisas que estão na boca das garotas.

Quando fiz curso de teatro, eu era bombardeado com essa palavra, durante conversas que eu ouvia sem participar - como sempre foi comigo.

Aquilo me irritava profundamente, mas eu ficava calado. Mas refletia sobre como fenômenos de idiotização coletiva têm o poder de influencia na nossa sociedade.

Ao contrário do que possam pensar, nada tenho contra estrangeirismos.

A minha vida está mais próxima de uma balada sussurrada por Bing Crosby do que dos alegres chorinhos de Altamiro Carrilho. Está mais para um dramalhão mexicano do que para a brasileiríssima minissérie As Cariocas (excelente, diga-se de passagem).

Mas o que ocorre comigo está longe de ser a realidade da imensa maioria. Problemas, é claro, todos nós temos, mas não creio que essas mocinhas, na flor da idade e apaixonadas pelos seus "crushs" estejam vivenciando uma vida problemática.

Muito pelo contrário, essas jovens mancebas estão vivendo a plena felicidade, ainda que muitas vezes não notem.

Mesmo eu tendo uma vida mais próxima das gélidas montanhas norueguesas, eu não troco por nada viver em um país recheado de lindas cachoeiras, dos verdes campos da selva amazônica, e sobretudo das lindas praias ensolaradas.

Não tenho muito o que comemorar. Sou um cidadão paulista, embora não paulistano. Não chego a morar na terrível capital, lugar onde o povo é altamente workaholic e respira o poluído ar movido a cansaço. Mas moro no litoral, que tenta imitar a pureza do estilo de vida fluminense, mas sem o glamour de um Leblon, de uma Ipanema.

Indo mais longe, eu não gosto sequer da palavra "paquera", o equivalente a "crush" há alguns anos atrás. Ao passo que "crush" demonstra viralatismo, "paquera" prova infantilidade. E eu juro a vocês que nem mesmo na puberdade eu me utilizava desse termo.

Então, que palavra usar para se referir à pessoa que estamos amando?

Sugiro "amor" ou "paixão". Assim mesmo, como adjetivos. Exemplo: "Aquela linda mulher é meu amor, minha paixão". Passa a ser até mesmo um nome próprio.

Bem menos arcaico do que "paquera" e infinitamente menos cafona do que "crush".

Para os que gostam de romantizar a língua, como eu, ficaria interessante usar expressões de adoração como "minha vida", "meu tudo", "minha dádiva" (como cantava Cassia Eller).

Mas creio que tal atitude seria vista como exagero pelos demais.

Hoje em dia, só o exagero da tosquice é visto como normal. Exagerar no romântico, no saudável e no inteligente é fora de moda.

quarta-feira, 14 de dezembro de 2016

PEC do Teto é o primeiro passo para retomar o crescimento, mas governo precisa tomar outras atitudes

A aprovação da PEC do Teto, que reduz o limite nos gastos públicos por 20 anos, foi aprovada pelo Senado e entrará em vigor sem precisar ser sancionada pelo Governo Federal.

A medida gerou revoltas e protestos dos velhos inimigos do capital, aqueles que estavam satisfeitos com a inflação que vinha crescendo exponencialmente no último governo e chegara a dois dígitos.

Entretanto, o governo Temer está muito longe da perfeição. E isso por ser intervencionista demais. Obviamente, é muito melhor do que o anterior, mas falta muita coisa a ser feita ainda.

Quando Temer extinguiu o Ministério da Cultura - na realidade, o fundiu com o Ministério da Educação - eu o aplaudi de pé, e cheguei a crer que estávamos vivendo uma nova era. Uma era que mal havia começado e já parecia ser mais capitalista do que os governos da década de 90. Cheguei mesmo a acreditar que finalmente tínhamos nosso equivalente a Reagan.

Mas tudo não passou de fogo de palha. Foi só meia dúzia de estudantes e "artistas" fracassados entrarem em ação, que o governo voltou atrás e recriou o Ministério. Uma atitude bem covarde e precipitada.

Cultura não deve ser tratada como uma política de Estado. Cultura é uma coisa de caráter subjetivo, portanto, governo nenhum tem o direito de investir milhões do dinheiro alheio em obras que, no final das contas, nem rendem lucro.

Um outro equívoco de Temer é manter os programas sociais, uma herança maldita deixada pelo PT. Quem me dera se esmolas como o Bolsa-Família tivessem o mesmo fim do Fome Zero, um retumbante fracasso.

Mas infelizmente, Temer pretende manter esses programas, embora não pretenda ampliá-los (já é alguma coisa).

Por outro lado, eu acho um absurdo haver uma reforma na Previdência. Agora, como se não bastasse a idade mínima de 65 anos, é preciso contribuir 49 anos para poder se aposentar.

Por que ao invés de massacrar o trabalhador com horas e horas de jornada de trabalho, não se privatizam logo todos os hospitais públicos, só para citar um exemplo? Garanto que economizaria muito dinheiro sem precisar fazer esse massacre com o povo brasileiro, e ainda por cima nos livraria do péssimo atendimento em tais hospitais.

Infelizmente as coisas não funcionam do modo que deveriam funcionar. O governo arruma uma solução paliativa e incompleta. E pior: cheia de falhas. Muitas águas vão rolar ainda nesse córrego. Só espero que isso não vá acabar num poço sem fundo.

segunda-feira, 5 de dezembro de 2016

A educação em SP e o nível dos professores

Quando eu cursava o Ensino Médio, eu costumava ouvir lamentos de professores sobre os baixos salários recebidos.

Eles argumentavam que o governo tucano havia sucateado a educação pública em São Paulo e que por isso a qualidade do ensino decaíra.

Entretanto, nos anos em que estive na escola, o que eu vi foi outra coisa.

O nível era baixo mesmo, mas os responsáveis por isso não eram os governantes e sim, os PRÓPRIOS PROFESSORES.

Explico. A grande maioria dos professores apenas cumpria seu serviço, de passar as lições e avaliar as notas, sem no entanto instruir cada aluno.

Alguns iam além e apenas sentavam-se à mesa, aguardando o fim da aula, e sequer passavam alguma lição.

Isso foi nos primeiros anos.

Ao final do meu Ensino Médio, o governo do PSDB iniciou a distribuição das chamadas cartilhas do aluno, conhecidas popularmente como "apostilas".

Esse modelo pode até ter sua funcionalidade discutível, mas era prático e didático.

No entanto, a situação nas escolas piorou ainda mais com a adoção desse método e, novamente, os culpados foram os educandos, e não somente o Estado.

As aulas tornaram-se abjetas. O "educador" mandava que nós anotássemos algum texto da apostila, as vezes respondêssemos algumas questões da mesma, e entregássemos em folha separada, ou mesmo em nossos próprios cadernos. E pronto. Era só aguardar o sinal sonoro e o início da aula seguinte.

Não havia discussão, debate, não havia nada. Nem mesmo a palavra de ordem do professor. Era tudo extremamente anestésico, no mau sentido.

Claro, os professores não são os únicos errados nessa história. Os alunos também contribuíam, com sua total falta de interesse nos temas.

As disciplinas que lidavam com números eram as que obtiam maior êxito na preferencia dos meus colegas. Mas nunca na minha. Não que eu não gostasse de exatas. Mas nunca tive facilidade com elas.

No entanto, as aulas de Língua Portuguesa, História, Filosofia, Sociologia etc, eram minha especialidade. Sempre me saí muito bem ao fazer redações. Já meus companheiros de classe detestavam pensar e preferiam fazer cálculos. O que não acho condenável, de modo algum. Antes se aprofundar em cálculos do que permanecer no ócio.

Mas o fato é que, além de os alunos não se interessarem em quase nada, os professores pouco faziam para despertar neles algum interesse. Portanto, eles não podem sair ilesos de culpa e ainda por cima reclamarem do seu ordenado no final do mês.

A educação em SP não é perfeita, logicamente. Mas seus índices ainda são os mais elevados do país. Material enviado pelo governo é o que não falta. No meu antigo colégio, haviam pilhas e mais pilhas de livros, tanto para ensino como também obras de autores renomados. Eu li a coleção inteira de Monteiro Lobato através da biblioteca que havia lá.

Vale lembrar também , que a TV Cultura é mantida com verbas públicas do Estado de São Paulo, e naufraga na audiência em todo o país. Uma programação muito interessante, mas às custas de dinheiro jogado no lixo, para que ninguém assista.

Portanto, não culpemos os governadores de sucessivos mandatos por um relaxo de gente descompromissada e sem vocação.

Se a educação em meu estado está um engodo (e está melhor do que nos demais!), em parte é por causa dos alunos, e em parte ainda maior é por causa dos professores, que não sabem instigar seus alunos.

O resto é conversa para boi dormir, assim como as aulas nas escolas públicas.

quinta-feira, 1 de dezembro de 2016

O possível fim da Operação Lava Jato e o fim da nossa esperança política

A Câmara dos Deputados aprovou, na madrugada da última quarta-feira, 30 de novembro, uma emenda ao pacote anti-corrupção, por 313 votos a 132.

O "pacote" em questão foi criado em março, por intermédio dos próprios deputados, como uma maneira de punir juizes e membros do Ministério Público que cometerem "abusos de autoridade" contra parlamentares.

Ou seja, nobre leitor: estamos diante de uma inversão de valores. Os parlamentares querem o direito de terem suas vidas particulares mantidas em sigilo, e se algum juiz se atrever a investigar seus atos criminosos, ele poderá ser preso por lei. Em que mundo vamos parar?

Agora a medida será votada pelo Senado e, se aprovada, deverá ter a sanção do Presidente da República.

Mas a votação de quarta serve também para trazer novamente à tona aquele velho debate "esquerda X direita". Será que essa dicotomia realmente existe no Brasil?

Eu fico em dúvida quanto à isso, quando vejo Jean Wyllys, do PSOl, votando contra, e vários demistas, ou seja, vários "conservadores", votaram a favor da medida.

Muito embora, a grande maioria dos petistas votou a favor. Nesse caso, nada de incomum.

Sim, pois apesar de os juízes muitas vezes serem corrutos, eles não passam a mão na cabeça de políticos que se envolvem em atos de corrupção diferentes.

Neste caso, o PT não seguiu aquele ditado: "Ladrão que apóia ladrão tem cem anos de perdão". O ditado, aqui, está mais para "libertar-se dos anéis para salvar os dedos".

Mas não sei se fico impressionado com partidos tidos como direitistas querendo a aprovação da emenda, entre eles o PR, o PP, o PSC e o PMDB (direitista?)

Afinal, o ex-prefeito e hoje deputado Paulo Maluf, do PP, tentou aprovar uma lei no Congresso para punir autoridades que agissem por "ma fé, promoção pessoal ou perseguição política". Ou seja, autoridades que tentassem defender o Brasil.

É certo que o juiz Sérgio Moro já pretendia acabar com a Lava Jato até dezembro. Mas a idéia dele era de que a operação tivesse fim com êxito, após ter colocado todos os envolvidos atrás das grades.

Eu também gostaria que assim fosse. Mas enquanto os culpados não fossem condenados, que as investigações continuassem. Ela não poderia ter um fim tão brusco, ainda mais por decisão de gente que poderia estar sendo autuada!

Quando vejo praticamente toda a classe artística apoiando bandidos, como meu antigo professor de teatro, que classificou Moro como "tendencioso", cai sobre mim um misto de decepção e falta de esperança.

Parece que o Brasil não tem mais jeito. Talvez, nem o mundo tenha jeito mais.

Quando penso que Lula, ao invés de estar preso, é um dos favoritos para as eleições de 2018, vejo que o nosso povo tem o destino que merece.

Costumo terminar sempre com alguma pergunta para que vocês reflitam sobre o que poderá acontecer. Mas, diante da situação, prefiro calar-me e calado assistir à morte do Brasil.

Deixo que os Titãs falem por mim:

"Vamos deixar que entrem
Como uma interrogação?
Até os inocentes
Aqui já não tem perdão
Vamos pedir que quebrem?
Destruir qualquer certeza
Até o que é mesmo belo
Aqui já não tem beleza"

Genial e atual. Mesmo neste país morto.