sábado, 1 de outubro de 2016

A doce magia das novelas de Manoel Carlos e o retrato de um tempo perdido

Assistir a reprise de Laços de Familia no Viva me trouxe a magia da infância de volta.

Me lembrava pouco da novela, mas lembro que a cena de Camila (Carolina Dieckmann) raspando a cabeça, aos prantos, ao som de Love By Grace, foi super-comentada nos dias seguintes. E eu tive a honra de assistir a cena em tempo real, quando foi ao ar. Tinha 5 anos na ocasião.

Resolvi escrever esse texto para falar sobre as novelas do Manoel Carlos, tendo Laços de Família como base, por ser a novela dele que está no ar atualmente. Prometo não concentrar minha atenção na Déborah Secco nem na Giovanna Antonelli, apesar de serem duas lindas mulheres e de brilharem demais na trama. Aliás, a história de Capitu, personagem de Giovanna, ganhou mais destaque do que a da própria Helena. Para mim, Capitu foi a real protagonista de Laços de Família. Mas prometo não desviar do assunto para falar nela.

Na MINHA OPINIÃO, Manoel Carlos é o melhor novelista do mundo. Sim, eu sei que isso é polêmico, mas notem as letras garrafais. É única, e exclusivamente, MINHA OPINIÃO.

Eu penso desta forma pela maneira leve, mas poética, na qual ele conta suas histórias. Nas paisagens, no modo de vida da classe média urbana carioca. No modo de retratar a vida individual, em casos que se interligam e nos fazem refletir.

A trilha sonora é sempre marcada por clássicos da Bossa Nova, o movimento modernista que trouxe jovialidade à música brasileira, na década de 50, onde a música até então era pesada, sofrida e melancólica.

A Bossa Nova é um reflexo das histórias criadas por Maneco. Doce, suave, tranquila e ao mesmo tempo motivadora.

Um exemplo disso é Viver a Vida, que conta, entre outros casos, a história de vida de uma moça que fica tetraplégica e precisa aprender novos valores.

Ao mesmo tempo que nos faz sonhar com o velho Rio de Janeiro, Manoel Carlos nos passa sempre uma lição. Mas eu nem diria uma lição de moral, pois esse termo acarretaria em algo cruel, impositivo, ordenado, o que acabaria destoando do perfil de seus folhetins. Maneco nos passa mesmo lições de vida, que nos fazem aprender com os nossos próprios erros, ou até mesmo, com quaisquer de nossas atitudes impensadas.

Não consigo compreender, de forma nenhuma, por que Viver a Vida teve forte rejeição de público, se tornando fracasso de audiência.

Infelizmente o público brasileiro não está habituado a ver o cotidiano de um povo feliz, optando pela vulgaridade de Caminho das índias, que tinha acabado antes de Viver a Vida. Aliás, me crucifiquem, mas se Maneco é o melhor novelista do mundo para mim, Glória Perez é a pior. Suas novelas sempre têm um irritante bordão (ou até mais de um!), sucessos radiofônicos, personagens caricatos e historinhas banais. Ou seja: o total oposto do querido Maneco.

Mas, justiça seja feita: eu não gostei de Em Família. Foi a única dele que não me agradou. Embora, o clima suave e relaxante ainda estivesse presente. Maneco não nos traiu, de modo algum. Mas o que não me agradou foram as atuações, em geral, muito fracas. Bruna Marquezine não merece ser chamada de atriz, me desculpem. O que me fez gostar dessa novela foi a Giovanna Antonelli. Tá, não vou mais falar sobre isso.

Em síntese: Manoel Carlos nos faz ver que o Rio de Janeiro não é apenas pancadão e Sapucaí. Não é apenas tiro, porrada e bomba. É também o amor, o sorriso e a flor.

Uma sociedade mais pura, mais nobre, e não falo de dinheiro, mas de comportamento. Mas que também tem seus sonhos muitas vezes não-correspondidos. Que também sofre, chora e até morre.

Lamentavelmente, ele não pretende mais escrever novelas. Perdemos nós com isso, perde a televisão brasileira e o Brasil como um todo.

Resta assistir suas reprises, e se alguém da Globo estiver lendo isso, que por favor acate a sugestão de reprisar Viver a Vida no Vale a Pena Ver de Novo. Pois a qualidade e o sucesso de algo não pode ser medido apenas pela audiência, mas também pela credibilidade.

Por ora, isso é tudo que tenho a dizer. E eu nem precisei falar sobre a Déborah Secco e a Giovanna Antonelli.

Nenhum comentário:

Postar um comentário