terça-feira, 20 de setembro de 2016

Qual seria o verdadeiro motivo para a "decadência" da MTV Brasil?

Eu curto pra caramba rock nacional.

O que formatou esse meu gosto foi a MTV Brasil, que marcou minha adolescência como já disse várias vezes aqui.

Desde que a MTV acabou, aparecem artigos na internet tentando entender o que causou isso. Alguns tentando explicar as causas da "decadência" da emissora.

Decidi escrever uma breve história do rock nacional, até chegar na história da MTV.

O rock brasileiro começou com uma abordagem tímida, falando de amores platônicos e questões da comportada juventude de 1959-1960. O primeiro rock com letra em português foi gravado pouco antes disso, em 1957, por um cantor tradicional romântico, Cauby Peixoto. Tratava-se da canção Rock'n'Roll em Copacabana.

Mas o início oficial do nosso rock foi mesmo na virada dos anos 50 para os 60, com os irmãos Tony e Celly Campello, Ronnie Cord, Demétrius e outros. Uma pré-Jovem Guarda, que na época tinha que competir na preferencia do público com os sambas, os boleros e a então nascente Bossa Nova.

O rock se tornaria hegemônico nas rádios entre 1963 e 1968. Era a Jovem Guarda, capitaneada por Roberto e Erasmo Carlos, além da "ternurinha" Wanderléa, Martinha, Leno e Lilian, Renato e Seus Blue Caps etc. Um roquinho ainda comportado, tanto na atitude quanto no som. A influência era mais de Peppino di Capri do que dos Beatles fase psicodélica. O movimento entrou para a história da MPB, criou gírias como "carango" e "morô" e se manteve vivo na década seguinte, através de cantores tidos como bregas. Sim, ouçam Odair José e Paulo Sérgio e me digam se não tem muito de Jovem Guarda.

Aliás, enquanto os bregas emplacavam seus sucessos, o rock brasileiro vivia uma fase ruim. Nos anos 70, veio o progressivo de O Terço, A Bolha e outros. Uma época de muito experimentalismo. Eu, pessoalmente, acho o progressivo uma chatice. Vamos esquecer esse período.

Anos 80 foi a época que a situação se dividiu. O rock ganhou várias vertentes. O que dominava a mídia era a new wave. Letrinhas bobas e ingênuas, para variar. O que diferenciava era o pós-punk, com letras profundas e melodias tristes. Foi a época mais comercial do rock brasileiro, onde até cantor popularesco como Nahim era metido a rockstar.

Chegamos então aos anos 90, tempo da liberdade máxima. É aí que entra a MTV.

Nos anos 90, os jovens fãs de rock sofriam com a crise cultural do país e a falta de espaço nas outras emissoras.

Naquele tempo, quase não haviam videoclipes produzidos no Brasil. Até então, só haviam clipes do Fantástico, a maioria dirigidos pelo Boninho (filho do diretor José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni).

O videocassete ainda não era uma realidade para a juventude pobre. DVD, nem pensar.

Por isso a MTV teve uma importância fundamental. E além de exibir os clipes que o pessoal gostava e nenhum outro canal exibia, ainda divulgava clipes de artistas desconhecidos, lançando tendências.

Vamos pular para os anos 2000, por que aí eu posso comentar melhor, pois eu vivi. Assisti a MTV de 2001 a 2013. Ou seja, desde que eu tinha sete anos até o fechamento da emissora.

Nesse tempo eu dava muitas risadas com o João Gordo. Sabia das novidades no Acesso MTV. Babava por beldades como Mari Moon, Dani Calabresa, Luisa Micheletti e muitas outras.

É complicado falar, por que a primeira metade da década foi muito diferente da segunda.

Por exemplo: em 2001, no Piores Clipes do Mundo, Marcos Mion zoava Molejo, Supla e Sandy e Junior. Em 2008, no Descarga, o sarro era no NX Zero.

Agora eu quero comentar: o que PROVAVELMENTE tenha causado a decadencia e, consequentemente, o fim da MTV, foi o preconceito com novos estilos.

A partir de 2009 veio o modismo do happy rock. Bandas como Cine e Restart.

Pelo que lembro, essa galerinha rolava muito pouco na playlist.

Não vou discutir aqui se isso é bom ou ruim. Mas a MTV, como uma empresa comercial, deveria se abrir mais para o que o telespectador gosta de ouvir. E na época, era isso que 90% do público jovem queria.

Tá, se a desculpa era a credibilidade, então que eles tentassem investir em um segmento mais popular.

Entre 1998-1999, a MTV criou programas voltados para o axé e o pagode. Era o que bombava: Os Travessos, Harmonia do Samba e tal. Foram malhados por isso, mas atingiram picos de audiência.

Em 2007-2008 as bandas de emocore como o citado NX zero, e cantoras pop como Lady Gaga, entraram na programação de boa.

Mas em 2009, além de renegarem os "coloridos" (apelido como ficou conhecido o happy rock), a MTV não incluiu nos seus programas musicais UMA música sertaneja sequer.

Sim, meus caros, se no rock a moda era Restart, na música popular era o sertanejo universitário que estava começando a dar as caras. Mídias como o SBT e as rádios FM já tocavam nomes como Michel Teló, João Bosco e Vinicius e Jorge e Mateus.

E esse pessoal costumava fazer clipes, embora muitos fossem apenas apresentações ao vivo. Mas daria pra passar num canal de clipe sem problemas.

O fato é que a música sertaneja sempre foi associada com idosos, e ninguém aceita a idéia de ver gente nova curtindo esse estilo musical.

Mas o fato é que o sertanejo veio pra ficar e está em primeiro lugar nas paradas há mais de dez anos.

Sabem o que explica esse sucesso? A união dos artistas desse gênero. No rock, os emos falam mal dos coloridos, os metaleiros falam mal dos punks, os roqueiros cristãos falam mal do black metal e o Tico Santa Cruz fala mal de tudo.

No sertanejo, não. TODAS as gerações, de Milionário e José Rico até Cristiano Araújo, cantam juntos, regravam músicas uns dos outros, enfim, é um clima de camaradagem que quase não se vê em outro segmento.

Os roqueiros deveriam se unir. Uma banda como Fresno, pra mim é tão legal quanto Titãs. Enquanto houver essas briguinhas idiotas entre as bandas, vai ser difícil para o rock voltar ao topo.

Mas voltando a MTV: o fim foi pela falta de abertura para o novo, para as mudanças.

Hoje, nos resta acompanhar a evolução e entender que a Internet veio para fazer o papel que a MTV fazia. Hoje nem o rádio mais exerce tanto poder de influência.

Então, saúdo aqui o capitalismo, que através de plataformas digitais como Youtube e VEVO, nos permitem ver e ouvir o clipe de nossos artistas favoritos, a qualquer hora do dia.

Vou continuar com a memória da MTV, que foi importantíssima no seu tempo. Inclusive, me lembrando de clipes que eu assistia nela, e os revendo através do Youtube.

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