quinta-feira, 18 de fevereiro de 2016

A atitude e a coragem de Mel Lisboa

Mel Lisboa é uma mulher linda. É uma grande atriz. E é uma grande mulher.

Eu estava lendo essa semana nos meus passeios pela Internet, primeiramente, o inconformismo dos religiosos e dos fãs da Rede Record de Televisão, lamentando a decisão da Mel de deixar a emissora para fazer suas peças de teatro.

Depois, li uma declaração antiga, de que a atriz seria atéia, por conta de uma desilusão que teve com um livro religioso (não é a Bíblia, mas outro livro igualmente patético)

Não sei, sinceramente, se a declaração teve um teor conotativo, irônico ou algo do tipo. Também não sei se, caso seja verdadeira, ela mantém sua posição até os dias atuais.

O que quero fazer é aproveitar a atitude e a coragem da atriz para comentar sobre um povo altamente paranóico e anti-democrático: os religiosos. Sim, essa gente para quem não acreditar num ser fictício, é sinônimo de canalhice, desonestidade e desrespeito aos valores. Ora, mas que valores? ódio e violência generalizada contra homossexuais, submissão das mulheres, intolerância com minorias religiosas? Fora o fato de que, senão todas, a maioria das guerras que aconteceram no mundo, foram causadas por esse mal chamado religião.

Mel Lisboa marcou minha infância representando mulheres independentes e fatais. Ainda me lembro da revolução causada na televisão brasileira, no saudoso ano de 2001, com a adaptação maravilhosa de Presença de Anita. Aquela personagem mexia demais com meu inconsciente, com minha cabecinha infantil, provando que a sexualidade deve sim, ser discutida desde cedo, coisa que os conservadores não gostam de aceitar. Talvez a incrível interpretação de Mel me fizesse gostar ainda mais do que via, primeiro por ser uma novata que o Brasil nunca tinha visto atuar, e segundo pela entrega que ela fazia, da liberação da mulher, do desejo libertário e extremamente autêntico de se dar, de maneira completamente sensual e extravagante.

Na Record, Mel se transformou no extremo oposto disso: uma mocinha meiga, dócil, que não representa perigo nenhum ao sistema. Da forma perfeita para os fundamentalistas cristãos, que pregam "valores tradicionais em nome da família", um modelo de sociedade onde uma mulher é chamada de "prostituta" por ficar nua em público.

Seu último papel no canal do Bispo Edir Macedo foi o de uma princesa egípcia, na novela Os Dez Mandamentos. Eu não poderia terminar este texto sem falar sobre o assombroso fenômeno da risível novela, agora transformada num filme. Ambos foram promovidos pela Igreja Universal como a maior evangelização da história. Realmente, muito dinheiro foi adquirado com essas verdadeiras obras de desarte, com a arte sendo transformada num produto de celebração e não de contestação. Ou seja, o filme e a novela subvertem o conceito de arte, o princípio básico da arte como transgressora dos velhos ideais.

A linda e deslumbrante Mel, apesar de comemorar o sucesso de seu trabalho, decidiu se afastar e disse não à renovação de seu contrato, por falta de tempo e de liberdade profissional. Ela está agora encarnando Rita Lee. Eu não assisti à peça, por que ainda não tive oportunidade, mas já deixo a idéia de um filme.

O fato é que, agora, Mel Lisboa está na pele de alguém muito mais progressista

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