segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016

E se José Serra tivesse ganhado?

2002 foi um ano histórico, para o bem e para o mal.

Apesar de não ser a primeira eleição que presenciei, é a primeira de que tenho lembranças. Eu tinha 7 anos.

De um lado, havia o então "progressista" Lula, que prometia acabar com a fome e a miséria no Brasil e diminuir as desigualdades sociais.

De outro, o candidato situacionista José Serra, que prometia mudança e principalmente emprego.

O governo FHC era bombardeado por quase toda a imprensa, um tapa na cara da esquerda que acusa a grande mídia de ser tucana. As críticas mais comuns eram a inflação acima de 10%, o desemprego e a "privataria", como era denominada pela oposição, sobretudo pelo PT. O resultado foi a vitória de Lula no primeiro turno.

Só que ninguém gosta de explicar as causas, e só se preocupam em apresentar os efeitos. Ninguém se lembra das crises mundiais que explodiram no final da década de 90, sobretudo a crise na Rússia em 1999. FHC se viu obrigado a fazer um ajuste fiscal, para conter os gastos e manter a independência brasileira diante do colapso. Pior é agora, com Dilma fazendo um ajuste ainda pior, sem nenhuma crise internacional que o justifique.

Todo mundo gosta de comparar a inflação de 13% do final da Era FHC, com os 6% do final da Era Lula. Uma diminuição bem razoável. Mas ninguém tem coragem de trazer à tona os números de 1994, antes de FHC ser eleito. A taxa inflacionária tinha ultrapassado os 2000%, e no ano seguinte, com o Plano Real sendo posto em prática, chegara a incrível taxa de 1,6%. E se manteve estável durante todo o primeiro mandato e boa parte do segundo do ex-presidente, só voltando a subir por causa da citada crise russa, além da crise argentina de 2001.

A vitória de Lula se deve muito menos ao seu carisma do que à intensiva campanha de marketing feito por sua equipe. A imagem do Lulinha paz e amor comoveu a sociedade, inclusive muitos empresários e banqueiros. Que, diga-se de passagem, estavam falindo não por culpa de FHC, mas por não saberem se adaptar às novas regras de mercado. A política econômica de FHC não era exclusividade nossa; o sociólogo simplesmente estava copiando um modelo que há muito tempo já dava certo lá fora. Não se pode fazer nada se o brasileiro não é chegado na globalização.

FHC fez o Brasil avançar oitenta anos em oito, mesmo sem prometer. Acabou com a inflação, reduziu os gastos do Estado com coisas inúteis e criou diversos programas sociais. Foi o governo onde houve a maior queda de evasão escolar, a criação do ENEM e o salário mínimo saltou de 70 para 200 reais.

Serra, como Ministro do Planejamento, comandou a venda das empresas que atrasavam nosso desenvolvimento. Como Ministro da Saúde, criou os medicamentos génericos e o melhor programa de combate a AIDS do mundo.

O que teria acontecido se o povo brasileiro tivesse dado a ele o direito de continuar o legado de FHC?

Me atrevo a chutar: se tivesse apoio do Congresso, Serra teria privatizado a Petrobras, a Caixa Econômica Federal e o Banco do Brasil. Daria mais autonomia ao Banco Central. Não teria aprovado o Estatuto do Desarmamento, que tira do cidadão o direito de legítima defesa. Não teria criado a abominável classificação indicativa, que regula o conteúdo veiculado em radio e televisão. E o Brasil não se veria mergulhado na onda do politicamente correto.

Em 2006, Serra poderia ou se reeleger, ou passar o cargo a Geraldo Alckmin. Nesse meio tempo, nosso país teria se tornado potência mundial e nós estaríamos integrados a ALCA, ao invés do Mercosul

Infelizmente, o povo brasileiro tendeu para o outro lado. O populismo, a arrogância e a prepotência do PT.

E o que aconteceu?

Lula manteve as conquistas de FHC, o que deu muito certo pra ele e lhe deu popularidade. Se apoderou de um prestígio alheio, como sempre faz.

No segundo mandato (sim, amigos, o mais triste é que ele ganhou novamente), explode a crise da Bolsa de 2009. Aparentemente, os efeitos não são sentidos pelo Brasil, o que faz com que Lula se gabe.

Entretanto, em 2010 e 2014, vence Dilma Rousseff, o que faz a economia brasileira afundar e gera uma crise interna.

Moral da história: a raiz do mal deveria ter sido cortado em 2002.

Fecha o pano

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