quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

O amor é apenas uma palavra que uso para rimar com dor

A felicidade é muito relativa, assim como o universo é aleatório.

Eu cresci tendo uma infância relativamente feliz. Não sabia nada de política, por isso não me preocupava com os acontecimentos do mundo. Não sabia nada sobre sociedade, já que eu fui criado na maior parte do tempo dentro de casa. Isso foi bom pra mim, por que eu não sabia o que era bullyng. Minha diversão era jogar video-games, ouvir as músicas que estavam nas paradas e assistir TV. Eu via programas infantis, uma coisa rara hoje em dia até para as crianças. Mas, de fato, eu me lembro que já sentia desejo sexual, embora nem soubesse o que era isso. Uma das minhas primeiras paixões foi a dançarina Carla Perez, então apresentadora do Canta e Dança Minha Gente. Paixão que mantenho até hoje, diga-se. Uma loiraça provocante, de requebros e remelexos que atiçam a libido de qualquer homem sedento. Sobretudo para quem é fascinado por baianas, como eu. Ainda hei de escrever sobre a superioridade da mulher baiana. Fica para uma outra oportunidade.

Entretanto, se minha infância foi feliz, não se pode dizer o mesmo de minha adolescência. Nessa época, comecei a ser separado de todos os grupos sociais. Um verdadeiro apartheid de uma só pessoa. Claro, deveriam existir outras pessoas no mundo na mesma situação, mas eu não me identificava com ninguém entre as pessoas que conviviam no meu meio. Confesso que tentava mudar meu jeito, fingir ter outros gostos, fazer de conta que não era estudioso, para fazer amigos. Mas só me aceitavam nos grupos como o bode expiatório, a piada da turma.

Eu era tímido, calado, corrigia professores e até livros. Gostava de cinema brasileiro pré-Retomada, escutava cantores do porte de Carlos Galhardo, apreciava um humor mais refinado que que a modinha do momento - o Pânico na TV. Nunca me julguei superior a ninguém por isso, muito pelo contrário, eu queria compartilhar com os demais as minhas predileções, para mostrar que bom gosto não deveria ser exclusividade minha. Todos poderiam apreciar essas coisas. Naquele tempo, a Internet já era um fenômeno que estava ao alcance dos jovens, mas eles nunca usaram a seu favor.

"Ué Bruno, mas voce não é um libertário? Cada um gosta do que quiser!". Concordo plenamente. Mas eu nunca obriguei ninguém a nada. Só queria mostrar o outro lado da história, a outra face da moeda, para que os meus colegas pudessem fazer suas próprias escolhas. Para rejeitar é preciso conhecer. E outra coisa: era disso que eu gostava. Eu acreditava mesmo, na minha ingenuidade, que eu poderia ser aceito em um grupo homogêneo sendo diferente. Mas não foi o que aconteceu.

Com o tempo, passei a ser agredido, verbal e fisicamente, e tive que trocar de sala. Nesta, consegui fazer um grupo bem pequeno de amigos (não passavam de três), e eles dialogavam mais entre eles do que comigo.

No meu colégio, eu permanecia a maior parte do tempo na biblioteca. Como eu não tinha com quem falar, e como nunca levei jeito para esportes, desenvolvi um gosto pela leitura. Era meu passatempo. Daí que, mesmo na adolescência, eu retardei minha infância lendo quase toda a obra de Monteiro Lobato. Era fascinante a forma como ele ensinava diversas disciplinas de maneira didática e divertida. O mesmo pode ser aplicado aos livros de Malba Tahan, que me ajudaram muito a aprender Matemática, uma matéria que sempre achei e acho dificílima. Eu sou um poeta, um articulista, um ator; ciências exatas me apavoram.

Mas foi na adolescência que comecei a sentir amor. Amor por pessoas reais. E acreditava no amor. Ah, como eu era tolo. Eu me apaixonei por cerca de dez pessoas, todas na minha escola, entre alunas e professoras. A mais educada me disse que eu iria achar alguém bacana, e que eu continuasse tentando. A mais grosseira me mandou fazer coisas impublicáveis.

A partir daí, adquiri o problema da depressão, que me atormentou durante anos. Eu olhava para todas as mulheres na rua, e notando que elas não me correspondiam, eu queria morrer. Ficava louco a procura de respostas. Tudo por que sou feio? Ou por que sou pobre? Ou por que não sei me vestir? Obesidade não poderia ser, pois não sofria desse problema na época

O fato é que eu sentia em mim um grande vazio existencial, pois todos os homens do mundo arranjavam parceiras. E parece que os homens que se gabavam de ter várias parceiras, eram os mais bem cotados por elas. Ainda é assim.

Mulher nenhuma nunca me achou bonito - família não conta. Algumas me diziam não só mesmo por esse detalhe da aparência. Outras, até davam uma chance de me conhecer, conversar comigo. Estas já eram a infinita minoria. E bastavam cinco minutos de papo pra que viesse a rejeição. Eu não sou um cara normal, segundo as mulheres.

Por isso, deixei de acreditar no amor. No meu caso, o amor é apenas uma palavra que uso para rimar com dor, nas minhas canções.

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